sexta-feira, 17 de julho de 2009

e-mail - Um conto de Junior Aragaki



Conheci seu marido num site de relacionamento, e ele me disse que era solteiro.........
Foi assim que Adélia, Dedé, iniciou aquele e-mail, sem saber que aquelas palavras mudariam sua vida.
Parou, pensou, lembrou e chorou, chorou muito. As lágrimas caiam sobre o teclado de seu computador.
O que mais incomodava Dedé não era apenas a dor de ter sido enganada por Mário, mas sobretudo por ter deixado enganar-se. Havia jurado que jamais aconteceria com ela. Dedé não queria se transformar naquilo que acabara com seu casamento; "A Outra". Ela devia ter desconfiado daquele papo todo, aquele gato cair do telhado no colo dela, assim, sem mais nem menos ou como diria o pessoal do telemarketing onde trabalhava;
- é muita areia pro meu caminhãozinho!
Aos 39 anos e com um casal de filhos adolescentes para criar, Dedé sabia muito bem que entrar num novo relacionamento não seria fácil, afinal a concorrência com as mulheres mais novas era desleal, sabia que ainda possuia o frescor da juventude no rosto, e o corpo apesar de estar ligeiramente fora de forma, ainda tinha seus encantos curvilineos, mas se havia algo que se orgulhava eram seus seios. Continuavam firmes e empinados, e ela ficava confiante quando pensava nisto. Mas naquela altura do campeonato nem estava em busca de alguém. Na verdade havia se acostumado a solidão.
Ficou feliz o dia que sua filha Márcia criou para ela um perfil num site de relacionamento. Dedé nunca se interessara antes por amizades virtuais, mas experimentou e gostou muito. Logo de cara encontrou varias amigas do tempo da escola,
divertiu-se trocando mensagens relembrando os velhos e bons tempos. Foi em busca dos amigos da facu, e encontrou até mesmo alguns professores.
Foi adicionada por um tal de Paul, e ao entrar no perfil acabou reconhecendo Paulinho, seu primeiro namorado. Ficou chocada ao descobrir que agora Paulinho, ou melhor Paul era gay. Afinal de contas ele fora sua primeira trepada.
Já estava craque no site de relacionamento, seu perfil bem completo e cheio de fotos, quando foi adicionada por Mário.
No inicio não deu muita bola, mas curiosa que era, resolveu investigar aquele charmoso e bonitão internauta. Mario Marcondes, 29 anos, SOLTEIRO!!!!! Corretor de seguros. SOLTEIRO. 1,85m. SOLTEIRO. Olhos e cabelos castanhos. SOLTEIRO!!!!! - Hummmmmmmm delicia! SOLTEIRO.
As fotos revelavam um bonitão, maduro porem jovem, cheio de charme, esportista, praticava esportes radicais. Pensou nisto e muchou a barriga prometendo iniciar um regime na segunda-feira.
Ficou alguns dias sem acessar o site pois era época de prova escolar e o único computador da casa estava comprometido com o estudo dos filhos. Pelo e-mail do trabalho viu que havia um recado de Mário em seu perfil, mas ficou desesperada por não poder abrir a mensagem, pois a empresa barrava este tipo de site. Aproveitou seus 15 minutos de tolêrancia no relógio de ponto e saiu mais cedo, ansiosa por chegar em casa.
Deu sorte e chegou antes de todos.
Abriu seu perfil e foi direto a pagina de recados, eram poucas palavras, mas muito mais do que ela esperava: Olá gata, vi que voce entrou no meu perfil, e fiquei louco pra te conhecer, me mande um e-mail com o seu telefone. Gde bjo. Mario.
Ai, ai, ai, puta merda!!!!Quem é que manda um Gde bjo! Somente alguem realmente interessado mandaria um Gde bjo!!!
Acho que ele gostou de mim! Pensou nisto e lembrou das fotos em Trindade no seu perfil, e riu pelo fato de terem sido tiradas quase uma decada atrás.......... desligou o computador e se levantou.........nada mais interessava agora.
No banho, não pensava em outra coisa!!!Que homem!!!! Depois de muito tempo sentia-se atraida e excitada. Sentou debaixo do chuveiro quente e pensando em Mário masturbou-se.
Levantou bem cedo no dia seguinte, estava alegre, leve, antes mesmo de passar o café ligou o computador e mandou o numero de seu celular para Mário com uma recomendação, ele deveria ligar no horário de seu almoço, pois não poderia atender durante o expediente. As garotas viram o brilho nos olhos de Dedé, quando tocou seu celular ao meio dia em ponto. Ela andava agitada de um lado para outro com o telefone grudado na orelha e nem reparou nas brincadeiras que faziam com ela enquanto voltava para seu terminal com um sorriso estampado no rosto.
Por mais que insistissem para que lhes contasse sobre o telefonema, Dedé ficou calada, respondendo com sorrisos.
Achava que contar antes dava azar.
Pediu para sair mais cedo, e foi sincera com a supervisora: - Tenho um encontro esta noite! Foi direto para o salão de beleza, onde a esperavam com depiladora, manicure, cabelereira e massagista, aproveitou e fez uma limpeza de pele tambem.
Chegou as 19:45, as 19:46 ja estava no banho, e mal acabara de vestir-se, toca a campanhia. Marcia fez um sinal de positivo enquanto Dedé saia correndo.
Mário era realmente bonitão, não muito diferente das fotos. E muito cordial. Dedé ficou caidinha.
Foram ao teatro, nova montagem do Véu de Noiva do Nelson Rodrigues. Realmente este Mário era tudo, bonito, charmoso, educado, e culto!!! Ela não podia acreditar que ainda existissem homens tão gentis.
Tomaram um café na praça Roosevelt após o espetaculo, e já que Mario não tomava uma atitude segurou o rosto dele entre as mãos e beijou-lhe bem suave nos lábios. Ele a puxou de encontro ao corpo, e ela sentiu a excitação dele na hora.
Foram pro carro, e deram um grande amasso no estacionamento.
Estranhou o fato de não terem ido adiante, ele a deixou em casa, despedindo-se apressadamente. Houvesse um convite mais ousado, Dedé aceitaria na hora.
Entrou em casa frustrada. Pôxa vida!!! Havia feito até depilação............
Na segunda vez em que saíram, Mário foi direto ao ponto e entraram no primeiro motel que encontraram na marginal Tiête.
Dedé tremia numa mistura de tesão com ansiedade, afinal fazia muito tempo que não transava.
Mário levou-a loucura, depois de massagear seu corpo inteiro, beijou-a deliciosamente,
sugou seus seios, e então a fez gozar a primeira vez durante o sexo oral, que continuou até que ela estivesse novamente molhada e só então a penetrou com força.
Transavam, transavam e transavam, a partir daquele dia, a relação deles era puro sexo! Não faziam mais nada, apenas sexo. Porém muito bem feito!
Um dia Dedé o esperava em um motel, e Mário não apareceu, não ligou, e o que é pior, não atendeu aos telefonemas aflitos dela.
-Minha nossa senhora! -Aconteceu alguma coisa com ele! -Um acidente...........sequestro relâmpago..........esta merda de telefone que está fora de área...........atende cacete.....atende!
Acordou assustada com o telefone do motel ardendo em seus ouvidos, aquele trimmmmmm nao poderia ser mais irritante! - Alô!!!! - Bom dia. Acabou o período do pernoite, a sra quer continuar no quarto? - Quarto??? Olhando em volta deu conta de que ainda estava no motel.... Mário...........Tentou o celular dele, e novamente aquela mensagem! Telefone desligado ou fora de área de serviço, e o duro é que era o único numero que ela tinha.
Desesperada, pegou um taxi e foi chorando para casa. Abriu seu perfil e procurou pelo de Mário, a pagina havia sido deletada. Desesperou-se mais ainda, como iria contatar Mário novamente? E aquele maldito celular........ ligou novamente e nada. Procurou
na internet, Mário Marcondes, e entre as 12.000 palavras relacionadas, não conseguiu encontrar o homem da sua vida.
Os dias passaram e nada de Mário, evaporou, desapareceu, o celular dava como inexistente. E agora?
Depois de dois meses de desespero, angustia, e depressão, resolveu que estava na hora de seguir sua vida. E eis que uma pequena coincidência fez com que Dedé se lembrasse
da placa do carro de Mário. Bebia um expresso na calçada de um Café, quando parou
a sua frente um carro com a placa CTS-6168. Ela bateu o olho de relance naquela placa
e na hora lembrou-se da placa do carro de Mário. CTS-6169. Ela havia visto a placa no motel um dia, e riu com o numero 69, uma das posições prediletas dele. Chegou a empresa que trabalhava, e atravéz de uma busca na internet, localizou o endereço do proprietário do carro com aquela placa. Pegou o endereço, entrou na lista telefônica online, e anotou o numero. A ansiedade para ligar para aquele numero era desesperadora. Mal conseguia atender os telefones em seu terminal de telemarketing, um nó no estômago, a boca seca. Ao bater meio-dia, hora do almoço saiu correndo, já discando para o numero anotado.
No terceiro toque:- Alô? atende uma voz feminina. Ficou encabulada na hora e desligou.
Ligou novamente. A mesma voz atende: - Alô??? Pois não??? quer falar com quem????
- Eu gostaria de falar com o Mário.
- Quem quer falar com ele???
- Adélia, uma amiga.
- Amiga é???? Ao fundo Dedé escutou: - Mário, seu canalha.... atende esta merda de telefone, é uma amiguinha sua.
- Alô? Quem fala?
- Dedé!!! O que está acontecendo Mário? Tá tudo bem contigo? Você sumiu assim, sem.... Mal completara a frase e o telefone bate na sua orelha.
Ligou novamente e nada, só dava ocupado. No dia seguinte o telefone constava como não existente.
Não queria acreditar no que estava acontecendo, para ela era óbvio. Tinha sido enganada. Usada, usurpada de seu orgulho de nunca ter sido "A Outra". Mas tinha sido tão bom. Não conseguia entender o porquê daquele filho da puta ter feito isto com ela. Não era justo. E ela queria esclarecer de uma vez por todas, aquela merda de situação.
Fez campana na casa dele no final de semana, até que vê a porta da garagem se abrindo, e o carro de Mário com ele ao volante, saindo com a familia.
Ela acelera fechando a garagem, salta do carro agitada, em direção de Mário, que fecha os vidros do carro como se ela fosse um grande ameaça.
- Abre esta merda de vidro Mário, preciso falar com você agora! Estava descontrolada, jamais pensara que algum dia chegaria a este ponto.
Batia de punhos fechados no vidro e na lataria do carro. E dentro do carro a situação tambem não era das melhores, Berenice, a esposa de Mário, tentava esmurra-lo, avançava de unhas em riste contra seu pescoço, e ele a todo custo tentava desvincilhar-se dela. Vendo aquela cena Dedé começou a sorrir.
- Abre esta merda de vidro Mário, seja homem! Muito mais do quê as unhadas da esposa, aquela palavras mexeram com o brio dele. Abriu a janela. Berenice parou os ataques na hora, e Dedé aproximou-se e cuspiu na cara de Mário. Virou as costas e foi embora, coração aliviado.
No dia seguinte recebeu um e-mail de Berenice, perguntando quem era ela, e porquê havia se envolvido com seu marido.
- Conheci seu marido num site de relacionamento e ele me disse que era solteiro........
A partir deste dia começou a trocar e-mails regulares com Berenice, poderia mesmo dizer que ficaram "amigas", tinham muita coisa em comum, e pegaram gosto em fazer piadinhas e futricas sobre Mário. Depois de quase um ano, resolveram se conhecer pessoalmente, e logo após a separação judicial de Berenice e Mário, marcaram num café de um shopping center.
Em vez de café, Berenice sugeriu um chopp gelado. Dedé aceitou na hora. -Nada melhor do que um choppinho gelado pra quebrar o gelo. Pensou e sorriu.
Resolveram estender a conversa num barzinho perto da Avenida Paulista, deram risada, comentaram sobre Mário, e encheram a cara. Dois jovens, com uma enorme franja a cair pelo rosto, se aproximaram e ofereceram cerveja, elas trocaram olhares cúmplices, e agarraram os rapazes.
Passava das duas da madrugada quando resolveram ir embora, Berenice se ofereceu para levar Dedé em casa. Quando o carro partiu, Dedé colocou o corpo pra fora do carro pela janela, pra dar tchauzinho aos rapazes, e entrou sorrindo. Elas gargalharam por alguns momentos, mas foram ficando sérias e pensativas e fizeram o restante do trajeto em total silêncio.
- É ali que moro, naquele muro cinza.
Berenice estacionou um pouco a frente, desligou o motor do carro e sem dizer uma palavra, pegou o rosto de Dedé entre as mãos, e beijou-lhe suavemente a boca, Dede´abraçou-a, enquanto tentava se livrar do cinto de segurança, puxando Berenice de encontro a seu corpo, ficaram uns vinte minutos ali, naquele beijo eterno.

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