segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Escadaria Anti-Glamour - um conto de Junior Aragaki



Eu trabalhava no Bradesco Seguros com o meu xara Marcos Carnieto.
Companheiro do Madame Satã, Freguesia do Ó, caronas no fiat 147 do Gerson, e agora companheiro
de almoço, se é que dá pra se chamar uma coxinha e meia cerveja de almoço, nossa rotina básica no Charme da Paulista, a lanchonete na esquina do Trianon.
1988. As sextas rolavam shows no vão do MASP. Concertos do meio-dia, se não me engano.
Numa destas, após fumarmos um baseado sentados na mureta sobre o túnel da avenida 9 de julho,
vimos ao show do Secos e Molhados, o Marcão chapado era um ser totalmente engraçado, então dei muitas risadas dele imitando e dizendo que o vocalista, maquiagem a escorrer pela cara, era o Nick Find, do Alien Sex Find!!!
Infelizmente tinhamos apenas 1 hora de almoço e tivemos que retornar para o batente antes do show terminar, o que me deixou puto, pois com um gravadorzinho K7 do paraguai, eu tentava gravar o show (o ruido ambiente melhor dizendo),
que depois eu duplicava e vendia com uma capinha feito de xerox em sulfite colorido, num "selo" imaginario chamado
Barba Azul. É claro que eu estava copiando os grandes piratas undergrounds do K7 nos anos 80. O "selo" Capitão Gancho, que sempre tinha fitas com os ultimos discos de punk rock e alternativos como Stiff Little Fingers ou Psychic TV. Os K7s que eu gravava ficavam uma bosta, imagine um gravadorzinho chulé, com um microfone embutido, e a unica forma de se conseguir distinguir algum som da banda do barulho da Paulista e do publico, era ficando o mais proximo possivel do P.A. Mas algumas vezes eu conseguia defender a cerveja do fim do dia. No Bradescão haviam varias pessoas, bossais como todo securitario consegue ser, mas que até se esforçavam pra ouvir algo diferente. E como eu era o MAIS diferente de todos, sempre acabavam comprando os K7s que eu gravara ou os LP's que eu "fazia rolo" nas Grandes Galerias.
Num dia meio chuvoso e portanto péssimo para se andar na Paulista, Marcão chega em mim: - Vamos colá lá no objetivo que preciso falar com a Claudia. Claudia japa, na época namorada de um outro amigo nosso, o Roberto da Freguesia do ó.
Fomos. A escadaria da Gazeta estava lotada de estudantes namorando, matando o tempo, matando a aula, e jogando pelada com bola de meia. Engraçado ver aquela burguesada suada, se matando atras de uma bola de meia.....
Demoramos a encontra-los, estavam no fundão conversando. Claudia japa e seu amigo Jonny (hoje Jhonny Luxo).
Eu ja o vira algumas vezes na noite, Madame Satã, sei lá, mas me lembrei imediatamente
de outra cena com o Jhonny. Estavamos subindo a Augusta de elétrico, Marcão, Roberto, eu e o Bisão, indo para a Nation. Eis que ele entra no busão, de calça e jaqueta jeans e camiseta, passa a catraca e vem para a frente (naquele tempo os onibus de São Paulo eram o contrário, você entrava por trás e descia pela frente) e enquanto engata
uma conversa com o Roberto, começa a se montar, não me lembro ao certo qual era
o modelito, mas com certeza era algo bem engraçado, e se explica: - Meu pai(ou seria padrasto), fica puto e não me deixa sair montado!!!!!!
Voltando as escadarias do objetivo, ficamos um tempo ali conversando com eles, mas tinha que ser coisa rapida, pois ainda teriamos que voltar a tempo da coxinha com cerveja, então apressei a conversa: - Vambora Marcão, ou não conseguiremos passar na lanchonete antes de bater o maldito cartão de ponto!!!!
- Podemos descer com vocês? Pediu a japa.
- Claro! Disse e ja fui saindo meio apressado.
Eu ia na frente com o Marcão, com a japa e o Jhonny logo atrás, quando chegamos no topo da escada e começamos a desce-la, a escada toda parou e começou a nos xingar de
viados, jogaram bolas e papel, e alguns cuspiram.
Desci a escada cego, chutanto tudo e todos que estavam pela frente, meti uma bica no material escolar de um casal, e me preparei pra brigar pois achava que os bostinhas
daqueles estudantes burguesinhos não iriam deixar barato. Deixaram.
Mas quando chegamos, os quatro, a certa distancia da Gazeta, Jhonny Luxo nunca esteve
tão sem luxo assim. O coitado tinha uma escarrada verde na testa, e enojado tentava se limpar com um lenço.

5 comentários:

Unknown disse...

kkkkkkk, ai ai... eu peguei um show desses no vão, Ultraje a Rigor, rsss, valeu por mais um relato! Bjs

elke julie disse...

E eu já tive as minhas noitadas na Nation ao lado de Jonny Luxo também... era purpurina pura! rsrsrs...

Claudia disse...

kkkkkkkkk... como poderia esquecer essa cena? kkkkkkkkk bjs

Unknown disse...

Hahahahaha...Aposto que os caras que fizeram isso ontem, são os gayzinhos de hj!!!! Nation era massa! Valeu por demais San! Bjo

Eduardo Cruz disse...

Pô, Junior, conheci o Johnny quando ele trabalhava no Universo em Desfile, um brechó que existia na Teodoro Sampaio, e que era de propriedade do Marcos Morcef, que, por sua vez, também era do Satã.
Vendo você contar, fui me lembrando dos meus tempos de passar pela Paulista, antes de vocês ainda, e ver a burguesada nojenta nas escadarias do Objetivo. Eu ali, office boy, me lascando de trabalhar, e aquele bando de filha da mãe olhando torto pro moleque da periferia com envelope cheio de conta dos chefes pra pagar...