sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O maior espetaculo da terra..



O maior espetaculo da terra.

Mato Grosso (na época era um só)!1975. Rio Brilhante.
Uma cidadela as margens do dito rio, onde aos domingos iamos lavar o carro, um fusca branco gelo, 69, dentro do rio, e seguindo um costume local, toda a limpeza era feita somente com os materiais que recolhiamos por ali. Areia pra arear os pneus, parachoques e peças enferrujadas, e com um mato macio que crescia nas margens do rio, esfregávamos o carro por fora e tambem por dentro, deixando um leve perfume citrico.
Não fosse o óleo, gasolina, e detritos que os velhos carros enferrujados da maioria miserável de sua população, seria um lava-rápido super ecológico.
A cidade era basicamente 3 avenidas principais, e umas duas dezenas de ruas
menores. Morávamos na ultima rua da cidade, antes de um imenso campo verde de pastos
e mais pastos, e no final da rua de terra vermelha, havia uma imensa marcenaria
da familia Amaral, os "Donos" da cidade.
Eu tinha apenas 5 anos, mas os detalhes daqueles tempos, permanecem como
se eu tivesse assistido a um filme da sessão da tarde, dormitando no sofá.
A lembrança primordial, é o dia em que chegamos de mudança.
A casa ainda não estava pronta, metade dela estava a céu aberto, sem telhado.
Exaustos, deixamos a mobilia espalhada pelos comodos. Famintos.
Meu pai conseguiu acender o fogão a lenha e grelhar alguns bifes na chapa.
Foi a primeira vez que fiz uma refeição de proteina pura.
Minha mãe ajeitou o colchão de casal, colado a um de solteiro no unico
lugar coberto, a cozinha.
Meu pai foi enfatico:
- E perder uma noite com uma lua desta? Vamos dormir na sala!!!!
E sob a luz das estrelas assistimos a um espetaculo emocionante que a
poluição de São Paulo nos proibe assistir.
A primeira vez que fui brincar no quintal, dei o primeiro passo descalço da
minha vida, e..........pisei..........pra minha sorte não era merda, apenas o mate
do terêre, o chimarrão gelado para o calor de 40 graus a sombra.
A terra era de um vermelho corante, e muito fértil. Fizemos uma horta. Meu pai fez uma horta para ele e uma "hortinha" para nós, com a condição de que cuidassemos dela. E de fato, revolvemos a terra, adubamos com esterco, plantamos o basico, alface, cenoura, salsinha. Todos os dias pulávamos da cama direto pra horta, pra acompanhar seu crescimento. Minha mãe deixava eu e minha irmã brincar descalços no imenso quintal, e no final da tarde, encardidos, colocava nossos "pés de molho" numa bacia e os esfregava com um pedaço de telha.
Ao lado de nossa casa, morava um casal de velhinhos, bem idosos. Seu Fred e Dona Zica. Eram de uma grande familia circense, eram trapezistas, malabaristas e Dona Zica por anos foi a primeira bailarina do circo, e aos setenta e poucos anos
era agil como um mestre shaolin! As casas eram todas de madeira, e como a minha ainda não estava terminada, faltava uma das coisas mais importantes neste tipo de casa.
A calefação! É preciso tapar todos os buracos e frestas pra evitar insetos e outros bichos,
afinal a cidade ficava nos confins de Mato Grosso, e onde não era pasto, era floresta.
Um dia, eu tomava café da manhã, enquanto minha mãe cozinha no fogão a gás (ela
não sabia usar o fogão a lenha), e conversa com Dona Zica, que nos levara um
delicioso bolo de fuba.
A velhinha congela:
- Cobra, cobra!!!! A coisa que minha mãe mais tem pavor no mundo é cobra.
A velhinha nem pegou impulso, bateu a mão na base da janela, cerca de 1,20m
e saltou pra fora. Só faltou dar uma pirueta no ar antes de aterrissar suavemente.
Minha mãe, contrariando todas as leis da fisica com seu 1,58 e gordinha, não exitou,
tomou impulso e seguiu Dona Zica janela afora.
Corri pra sala assustado e maravilhado ao mesmo tempo.
Minha mãe, artista de circo!!!!!!!!!!!
Quantos risos........ó quanta alegria..................

Nenhum comentário: