segunda-feira, 3 de setembro de 2018

E então despertei.........
E mesmo de olhos abertos um véu negro cobria minha existência.
Não havia nada, somente trevas.
Num instante apenas, uma fração de segundo, como num choque tudo voltou. Bem quase tudo. Eu não conseguia me lembrar quem era.
Fiquei ali, imóvel, sufocado, quase sem ar.
Tateando no escuro, o desespero tomou conta de mim.
Ali naquela completa e silenciosa solidão, gritei desesperado! Dei conta de que estava dentro de um caixão. Enterrado. Enterrado Vivo.
Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali. Alguns dias, meses, a eternidade?
O tempo estava congelado, e nem mesmo minha respiração eu ouvia. Eu não respirava.
No auge do desespero, comecei a esmurrar o tampo do caixão, e para minha
surpresa, em um só golpe, a tampa foi arrancada como se fosse papel.
Estava mais forte do que nunca. Mas ainda não sabia quem eu era.
A terra invadiu meu esquife, caiu sobre meu rosto, e comecei a cavar, quando
me dei conta, estava do lado de fora do caixao, em um grande tumulo.
Era noite, e resolvi sair dali!
La fora uma chuva fina e gélida açoitou meu rosto. E mesmo com um frio cortante, tive uma imensa sensação de prazer.
Corri por entre os jazigos e por vezes parei para ler algum nome, no entanto
o meu nome, meu próprio nome continuava sendo um mistério para mim. Não havia
nada naquele tumulo que pudesse me identificar, nenhum documento, nada.
Porque eu estava enterrado, o que havia acontecido comigo?
Pulei o imenso muro e fugi em busca da minha identidade.
Então algo inacreditavel aconteceu comigo. Eu estava voando, sim eu voava suavemente
como se sempre fizesse isso. Me aproximei de uma pequena cidade, sempre voando, flutuando sobre os telhados, me sentia fluido, dissolvido no ar gélido da madrugada,
mas sentia cada ser embaixo de mim, respirando, palpitando, vivos, e sobretudo
sentia o cheiro doce e metálico do sangue quente que corria em suas veias. E então tive fome. Muita fome. Algo incontrolavel me corroia por dentro, era dor, queimava como fogo, e eu só conseguia pensar naquele cheiro doce de sangue, sangue, somente isto
poderia aplacar minha dor, minha fome. Naquele momento eu senti frio novamente,
um raio gelado penetrou minha espinha. Então era isso. Eu havia me tornado um vampiro.

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