segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Escadaria Anti-Glamour - um conto de Junior Aragaki



Eu trabalhava no Bradesco Seguros com o meu xara Marcos Carnieto.
Companheiro do Madame Satã, Freguesia do Ó, e agora companheiro
de almoço, se é que dá pra se chamar de uma coxinha e meia cerveja de almoço, nossa rotina básica do almoço no Charme da Paulista, a lanchonete na esquina do Trianon. 1988. As sextas rolavam shows no vão do MASP. Concertos do meio-dia, se não
me engano.
Numa destas, após fumarmos um baseado sentados na mureta sobre o tunel
da avenida 9 de julho, vimos ao show do Secos e Molhados, e o Marcão chapado
era um ser totalmente engraçado, então dei muitas risadas dele imitando
e dizendo que o vocalista, maquiagem a escorrer pela cara, era o Nick Find, do
Alien Sex Find!!!
Infelizmente tinhamos apenas 1 hora de almoço e tivemos que retornar para o batente
antes do show terminar, o que me deixou puto, pois com um gravadorzinho K7 do paraguai, eu tentava gravar o show (o ruido ambiente melhor dizendo), que depois
eu duplicava e vendia com uma capinha feito de xerox em sulfite colorido, num
"selo" imaginario chamado Barba Azul. É claro que eu estava copiando os grandes
piratas undergrounds do K7 nos anos 80. O "selo" Capitão Gancho, que sempre
tinha fitas com os ultimos discos de punk rock e alternativos como Stiff Little Fingers ou Psychic TV. Os K7s que eu gravava ficavam uma bosta, imagine um gravadorzinho chulé, com um microfone embutido, e a unica forma de se conseguir distinguir algum som da banda do barulho da Paulista e do publico, era ficando o mais proximo possivel do P.A. Mas algumas vezes eu conseguia defender a cerveja do fim do dia. No Bradescão haviam varias pessoas, bossais como todo securitario consegue ser, mas que até se esforçavam pra ouvir algo diferente. E como eu era o MAIS diferente de todos, sempre acabavam comprando os K7s que eu gravara ou os LP's que eu "fazia rolo" nas Grandes Galerias.
Num dia meio chuvoso e portanto péssimo para se andar na Paulista, Marcão chega e mim: - Vamos colá lá no objetivo que preciso falar com a Claudia. Claudia japa, na época namorada de um outro amigo nosso, o Roberto da Freguesia do ó.
Fomos, a escadaria da Gazeta estava lotada de estudantes namorando, matando o tempo,
matando a aula, e jogando pelada com bola de meia. Engraçado ver aquela burguesada
suada, se matando atras de uma bola de meia.....
Demoramos a encontra-los, estavam no fundão conversando. Claudia japa e seu amigo
o na época Jhonny (hoje Jhonny Luxo).
Eu ja o vira algumas vezes na noite, Madame Satã, sei lá, mas me lembrei imediatamente
de outra cena com o Jhonny. Estavamos subindo a Augusta de elétrico, Marcão, Roberto, eu e o Bisão, indo para a Nation. Eis que ele entra no busão, de calça e jaqueta jeans e camiseta, passa a catraca e vem para a frente (naquele tempo os onibus de São Paulo eram o contrário, você entrava por trás e descia pela frente) e enquanto engata
uma conversa com o Roberto, começa a se montar, não me lembro ao certo qual era
o modelito, mas com certeza era algo bem engraçado, e se explica: - Meu pai(ou seria padrasto), fica puto e não me deixa sair montado!!!!!!
Voltando as escadarias do objetivo, ficamos um tempo ali conversando com eles, mas tinha que ser coisa rapida, pois ainda teriamos que voltar a tempo da coxinha com cerveja, então apressei a conversa: - Vambora Marcão, ou não conseguiremos passar
na lanchonete antes de bater o maldito cartão de ponto!!!!
- Podemos ir com vocês? Pediu a japa.
- Claro! Disse e ja fui saindo meio apressado.
Eu ia na frente com o Marcão, com a japa e o Jhonny logo atrás, quando chegamos no topo da escada e começamos a desce-la, a escada toda parou e começou a nos xingar de
viados, jogaram bolas e papel, e alguns cuspiram.
Desci a escada cego, chutanto tudo e todos que estavam pela frente, meti uma bica no material escolar de um casal, e me preparei pra brigar pois achava que os bostinhas
daqueles estudantes burguesinhos não iriam deixar barato. Deixaram.
Mas quando chegamos os quatro, a certa distancia da Gazeta, Jhonny Luxo nunca esteve
tão sem luxo assim. O coitado tinha uma escarrada verde na testa, e enojado tentava
se limpar com um lenço.







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