sábado, 22 de agosto de 2009

Luz Divina -Uma vaga lembrança de Junior Aragaki



De certa forma, alguns momentos ficam eternizados em nossa memória.
Eu estava sentado na escadaria do Madame Satã, conversando com a minha amiga Liliza, semi-bêbado, sem grana pra beber a noite inteira no Madame, eu normalmente parava no boteco ao lado, o Barba, e dava uma boa calibrada antes de entrar. Bombeirinho, porradinha, jurubeba(Du Rock), mas sobretudo pinga de alambique. Ou então passava no bar do pernambuco, um pouco acima, onde bebia cerveja com cinza de cigarro.
Estava um frio cortante e com uma leve garoa paulista, que só existiu até o final dos anos 80. Engraçado como a noite em São Paulo mudou, não tem mais garoa, mas continua SP.
Olhei pra cima e vi uma luz, bem longe, aproximando-se rapidamente, uma inacreditavel luz vinda do céu........... até que explodiu no chão ao lado da escada! Boommmmmm,
a luz era um Coctel Molotov lançado pelos carecas, que queriam invadir o Satã pra pegar os punks! Por alguns momentos o fogo ardeu pelo chão e subimos correndo pro salão principal. Estava um grande confusão na entrada.
O William segurança (não o dono), havia baixado a porta e os carecas davam machadadas rasgando as folhas de metal. Eu ali, semi-bêbado sem saber pra onde correr. Me sentia um personagem de filmes de zumbi, preso numa mansão, com monstros tentando derrubar a porta e me amaldiçoei pelo meio vidro de Bentil.
Mas então tudo ficou em silêncio lá fora. Pelos rasgos abertos pelas machadinhas, vi o giroflex de uma viatura ligado. E acho que pela primeira vez na minha vida me senti aliviado por ter visto um meganha!
Ledo engano, logo após dispersarem os carecas, os policiais entraram no Satã, e deram uma puta geral em todo mundo!! Pararam o som, acenderam a luz de serviço, revelando como aquele lugar era um lixo, enfim quase acabaram com a noite. Estavam sobretudo a busca de menores. Eu era "dimenor" e dancei bem no momento em que batia o Bentil. Pedi licença ao guarda, virei pro lado e vomitei. Só faltou ele esfregar meu nariz no vômito. Da kombi da POLO, ouço alguem xingando, e vejo um cara esperneando no meio de dois policiais. Eles o traziam algemado, abriram a porta e o jogaram no banco. Era o Crânio. Um dos punks mais gente boa que conheci até hoje, e que foi assassinado anos atrás por um bando de playboys na porta de uma casa noturna aqui em São Paulo. Quem não conheceu o Madame Satã com o Crânio na porta conversando e discutindo a filosofia da vida e das ruas, não conheceu de fato o MS. É uma pena que a essência do Satã tenha se perdido com o tempo. Ficou atrelada aos anos 80 o auge da casa, o que não reflete a busca pelo novo que tinhamos naquela época, principalmente por novas bandas, novos estilos e sonoridades diferentes, a informação era escassa, tinha que correr atrás, mas talvez tudo isto tenha morrido com a Melody Maker. Assim como morreram o Lira Paulistana, o Carbono 14, o Acido Plastico, o Via Berlin, o Napalm, o Templo, o Construção, o Buraco quente.....................

2 comentários:

Cris disse...

Nostalgia....impressão de ter assistido um filme, mas não é um filme, é o meu passado...só quem viveu tudo isso entende...

Anônimo disse...

1986-4BIB-3CIA SD ADILSON 1257,O PRIMEIRO DA CHAMADA.ABRAÇO ATODOS QUE SERVIRAM COMIGO!